Rapé com Yopo – Medicinal Indígena
Um dos gêneros de plantas que contêm triptaminas enteogênicas com longa história de uso é o Anadenanthera, rico em triptaminas metiladas, precursoras do DMT (Dimetiltriptamina). Estas plantas contam com uma história medicinal associada ao seu uso, sendo o principal deles em preparações de rapé com yopo. Estima-se que cerca de 20% das populações maias eram usuárias regulares da planta. Além destes, muitas tribos indígenas da Amazônia brasileira e da bacia do Orinoco, na Colômbia e Venezuela, costumam preparar as sementes de A. colubrina misturando-as com cinzas ou conchas calcinadas para fazer um rapé com forte poder de limpeza para corpo e mente. Devido a ser conhecida e utilizada por muitas tribos diferentes, diversos nomes populares são conferidos à espécie como Cohoba, Hataj, Kahobba, Niopo, Paricá, Yopo, Villca.
A espécie Anadenanthera colubrina apresenta potencial terapêutico reconhecido pela medicina popular e muito utilizada como antisséptico e cicatrizante (1). Esta espécie ocorre apenas ao sul da linha do Equador, sendo adaptada às mais variadas condições climáticas e ambientais. No Brasil, ocorre numa faixa compreendida desde o Maranhão até São Paulo, passando por Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, sendo uma das espécies lenhosas típicas do bioma Caatinga (2). Apesar de ser uma espécie encontrada na Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, A. colubrina não é uma espécie exclusiva do Brasil. Estudos realizados na América Latina relatam que comunidades tradicionais da Argentina, Venezuela e Bolívia utilizam este vegetal para diversos fins terapêuticos, utilizando também como alucinógeno em rituais religiosos (3,4). Acredita-se que suas sementes eram consumidas por via oral pelos povos Incas.
As partes mais utilizadas da planta são as cascas e as sementes. Destas últimas, tradicionalmente, são extraídos pelos indígenas os compostos para o rapé com yopo, um rapé com potencial alucinógeno, devido à presença dos alcalóides psicoativos da planta. Para fazer o rapé psicodélico com yopo, as sementes são primeiro torradas para facilitar a quebra das cascas e a moagem. Os grãos, depois de moídos, são misturados em um pilão com uma forma natural de hidróxido de cálcio ou óxido de cálcio, feitos a partir de certos tipos de cinzas e cascas calcinadas. Esta mistura é então umedecida com uma pequena quantidade de água e agrupada em uma bola durante vários minutos para que todo o composto ativo entre em contato com o hidróxido de cálcio. A mistura é então deixada em repouso durante vários dias, dependendo dos hábitos locais de cada tribo. Durante este período, o excesso de hidróxido de cálcio reage com o dióxido de carbono no ar, para formar o carbonato de cálcio. Em seguida o rapé é seco e está pronto para ser utilizado. Os índios costumam soprado nas narinas através de tubos de bambu ou por tubos feitos com ossos de aves.
No sul da Venezuela, os xamãs das tribos Piaroa, por exemplo, incluem na preparação do yopo cortes de Banisteropsis caapi, a popularmente conhecida Jagube, que faz parte da preparação do chá de ayahuasca. Eles costumam consumir doses de B. caapi antes ou concomitante ao consumo do rapé com yopo, com o objetivo de possuir força nas visões desejadas para tarefas específicas, como caça e pesca.
No Brasil, mais especificamente na Caatinga, bioma onde a espécie é mais abundante, as populações locais têm feito uso da planta tanto para fins medicinais quanto para construção civil, lenha, alimento para animais, etc, sendo uma espécie com grande valor econômico e etnobotânico5. As preparações da planta incluem tanto as cascas, raízes e sementes e são utilizadas para diversos fins terapêuticos.
De acordo com Rodd (2002), o conhecimento atual sobre a preparação e uso das sementes de A. peregrina em rapé alucinógeno evoluiu pouco a desde os primeiros estudos feitos por cientistas e viajantes, como Evan Schultes, há mais de um século atrás. Poucos trabalhos etnográficos foram realizados para avaliar a diversidade etnobotânica e enquadramento cultural do complexo rapé alucinógeno feito a partir do yopo.
Conheça uma breve história de uso do Yopo.
Citações
- WEBER, et.al, 2011. Anadenanthera colubrina: um estudo do potencial terapêutico. Revista Brasileira de Farmácia.
- LORENZI, H. 1998. Árvores Brasileiras – manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do Brasil. vol. 2. São Paulo. Plantarum.
- RODD, 2002. Snuff synergy: preparation, use and pharmacology of yopo and Banisteropsis caapi among the Piaroa of Southearn Venezuela. Journal of Psycoative Drugs.
- HILGERTt, 2001. Plants used in home medicine in the Zenta river basin, northwestern, Argentina. J. Ethnopharmacol.
- MONTEIRO, 2006. Use and tradicional management of Anadenanthera colubrina (Vell. Brenan. in the semi-arid region of northeastern Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine.
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