Problemas no cultivo: Folhas amarelam encolhem e plantas raquíticas

A Green Power agradece a todos os seus leitores e clientes que vêem no nosso blog um ponto de referência sobre cultivo e por isso tem usado bastante o canal O que fazer quando para compartilhar suas dúvidas e problemas no cultivo. Fica até difícil de selecionar qual atender primeiro. Um dos critérios sempre é o que pode responder uma dúvida que possa ser comum a muitos cultivadores e não somente aquele que enviou a pergunta. É o caso da dúvida destacada a seguir.

Coloquei as plantas no grow com dois meses. Logo após, as folhas começaram amarelar e encolher para cima e agora as plantas estão raquíticas. O que possa fazer para reverter esse quadro?

Todos nós, seres vivos, reconhecemos nossas doenças e deficiências pelos sintomas que causam. No caso da pergunta enviada por nosso leitor, identificamos três:

1. Folhas amareladas
2. Folhas encolhidas ou enroladas para cima
3. Plantas frágeis e raquíticas

Como já conversamos aqui em outros texto sobre nutrição das plantas, nem sempre é fácil reconhecer com precisão qual é o problema. Porém, com os sintomas apresentados é possível ter o indicativo de alguns caminhos a seguir para corrigir a rota e colocar o cultivo nos trilhos novamente.

Passo a passo para resolver os problemas no cultivo

1º PASSO

O primeiro passo para resolver a situação é garantir que o problema esteja associado apenas a questão nutricional. Isso significa que a primeira providência é rever a rotina do grow e os demais fatores limitantes do crescimento. Para isso, uma dica é ler para saber mais a respeito.

– Fotoperíodo: As plantas estão recebendo o tanto de luz que necessitam na fase vegetativa? O fotoperíodo está ajustado e é constante?

– Temperatura e umidade: A temperatura do grow está sendo controlada? E a umidade? Dentro do intervalo ótimo de temperatura e umidade para crescimento, você escolheu a opção que mais se adapta ao clima do local onde planta?

– Água: A rotina de rega está adequada? Levou em consideração a temperatura e fotoperíodo do seu grow?

– CO2: Os níveis de CO2 do ambiente estão adequados? Há ventilação o suficiente para a plantas?

– pH: o pH do solo está correto? Você já possui um medidor de pH para auxiliar nesse processo?

Após identificar se esses fatores estão ajustados, pode-se prosseguir com o estresse mais provável em situações como a apontada pelo leitor: os problemas nutricionais.

2º PASSO

Nesta etapa, deve-se entender cada um dos sintomas e como eles se correlacionam. Se você realiza fertilização ou suplementação do elementos citados abaixo, seguindo exatamente as indicações dos fabricantes para o tamanho da sua planta, pode excluir as hipóteses sugeridas e trabalhar com as mais plausíveis conforme sua situação.

As folhas amareladas

O amarelamento das folhas é um sintoma comum a várias deficiências nutricionais:

Folhas jovens – deficiência de Ferro ou Manganês

Folhas do meio – falta de Molibdênio

Folhas antigas – deficiência de Nitrogênio, Potássio, Magnésio ou Zinco

Folhas enroladas para cima

O encolhimento das folhas para cima está associado a deficiência de Potássio, Cobre ou ao overfert.

Plantas frágeis ou raquíticas

Esse aspecto é mais amplo e pode estar relacionado com diferentes fatores além dos problemas nutricionais. Basicamente qualquer estresse que a planta possa estar sofrendo resulta nesse aspecto de fragilidade.

É importante ter atenção e buscar solucionar a situação antes de chegar a esse ponto. Dependendo do quanto a planta já estiver afetada, a recuperação pode ser bem difícil e talvez não reste outra saída a não ser recomeçar o cultivo. A opção neste caso é trabalhar com as hipóteses baseadas nos outros dois sintomas e assumir que a fraqueza é apenas a consequência última.

3º PASSO

Passado o estudo mais teórico das deficiências, neste terceiro passo a ideia é formular hipóteses relacionando os sintomas. Aqui vamos descrever mais detalhadamente como as plantas possivelmente estão, bem como as possibilidades de resolver e quais deficiências são mais ou menos comuns.

As hipóteses

1. Deficiência de Potássio

O elemento Potássio (K) foi o único citado duas vezes nas referências das deficiências, então é muito válido iniciar as tentativas de solução por aqui. O Potássio é um dos três nutrientes mais importantes para o desenvolvimento das plantas (não é atoa que nos fertilizantes encontramos a combinação N-P-K) e por isso a deficiência desse elemento é incomum quando se utiliza nutrientes comerciais.

É importante em todos os processos de transporte de água e também de crescimento. K é um nutriente móvel. Ou seja, é transferido de folhas mais velhas para um novo crescimento, por isso aparece primeiro nas folhas mais velhas, enquanto as folhas novas permanecem saudáveis.

Dependendo da gravidade da deficiência as folhas apresentam manchas de necroses ou cloroses, entre as veias podemos às vezes observar manchas avermelhadas. É interessante observar que uma deficiência grave de K resulta em crescimento mais lento, mas a escassez severa pode fazer com que as folhas (e somente elas) cresçam mais que o normal.

A solução: Felizmente a boa notícia é que na fase vegetativa a deficiência de potássio não implica numa grande complicação para o crescimento a longo prazo. Fertilizantes tipo bloom (normalmente usados na floração) são uma boa solução rápida.

Outros compostos bons para resolver o problema são o bicarbonato de potássio (KHCO3), nitrato de potássio (KNO3), sulfato de potássio (K2SO4), fosfato monopotássico (MKP) e o di-hidrogenofosfato de potássio (KH2PO4). Para prevenção da deficiência costuma-se utilizar pó de granito. Aplicando esses compostos, se este for realmente o problema, a planta deve começar a se recuperar em 4-5 dias.

Algumas medidas encontradas nas bibliografias para ajudar:

Nitrato de potássio: 1 grama em 1 galão fornece 102 ppm de K e 37 ppm de N.

Sulfato de Potássio: 1 grama em 1 galão fornece 119 ppm de K e 48 ppm de enxofre.

Fosfato monopotássico: 1 grama em 1 galão fornece 76 ppm de K e 60 ppm de P.

KSiO3 Silicato de potássio (K2SiO3): pode ser usado para fornecer Si e contém 3% de K.

Curiosidade: O frio diminui a absorção de Potássio, assim como muito Cálcio ou NH4

2. Deficiência de Cobre

Cobre é essencial para a produção, reprodução e maturidade de plantas saudáveis e auxilia no metabolismo de carboidratos e na redução de oxigênio.O Cu é o outro elemento o qual a falta está associada ao enrolamento das folhas. Entretanto, a deficiência dele é bastante rara. A deficiência de cobre aparece primeiro em folhas jovens que exibem necrose e cor cobre, azulada ou cinza com brilho metálico nas pontas e margens. As folhas jovens ficam amarelas entre as veias também.

Outros sintomas incluem folhas flácidas que se voltam para as bordas e, eventualmente, morrem e murcham por toda a planta. A toxicidade fatal é rara. À medida que a planta se aproxima da morte, suas folhas ficam amarelas devido à sua incapacidade de usar ferro (Fe). As raízes são de tamanho anormal e começam a se decompor.

A solução: Uma boa opção é utilizar fungicidas a base de cobre, como o sulfato de Cu (CuSO4) e o Quelato de cobre. Formulações de micronutrientes hidropônicas e agrícolas contendo Cu também funcionam.

Composto, verduras e concentrados de kelp são boas fontes naturais. O ideal é diluir o Cobre em água (pode-se utilizar soluções ácidas como suco de limão ou vinagre para ajudar) e usar na rega. Atenção! É comum confundir essa deficiência com overfert.

3. Deficiência de Ferro, Manganês e Zinco

As deficiências de Ferro, Manganês e Zinco frequentemente estão associadas.

Fe: O Ferro é necessário para que as enzimas funcionem e também atua como um catalisador para a síntese de clorofila. Tecidos jovens em crescimento ativo precisam de Fe para desenvolver. Folhas mais velhas também requerem um pequeno suprimento.

A deficiência de ferro é comum mais em ambientes externos e por isso não vamos nos deter muito a ela. A deficiência de ferro começa em folhas novas, que não possuem clorofila e podem apresentar manchas necróticas. Isso faz com que fiquem amarelados, exceto pelas veias, que permanecem verdes.

Mn: O Mn ajuda as enzimas a se decomporem na produção de clorofila e fotossíntese, e a disponibilizar nitratos para a produção de proteínas. A deficiência de Manganês também aparece primeiro no novo crescimento enquanto as folhas mais velhas permanecem sãs.

Os tecidos ficam amarelados e pequenas áreas de tecido marrom (áreas necróticas) aparecem no meio da folha. A folha é delineada em um anel de verde escuro ao longo de suas margens. Muito manganês no solo provoca dificuldade de absorção e por consequência, deficiência de Ferro. É visível uma falta de vigor nas plantas.

Zn: O Zn auxilia na maturidade das plantas, bem como na produção de folhas, caules e ramos. É um componente essencial em muitas enzimas e no hormônio do crescimento auxina. Baixos níveis de auxina causam folhas atrofiados.

O Zinco também é importante na formação e atividade da clorofila. A deficiência de zinco é identificável por lâminas foliares torcidas em novo crescimento, clorose e amarelamento entre as veias das folhas mais velhas, também um aspecto de palidez geral.

A solução: Alimentação foliar com fertilizante quelatado contendo Fe, Zn e Mn é uma boa opção.

Outros suplementos são os óxidos de ferro (Fe2O3, FeO), a base de Mn (MnSO4), sulfato de zinco (ZnSO4)e o óxido de zinco (ZnO) para rápida absorção. Devem ser adicionados foliarmente e ao substrato. Adicionar água enferrujada também funciona.

Hortaliças contêm Mn, mas são absorvidos mais lentamente do que os solúveis em água.

Atenção: A deficiência de ferro pode indicar um desequilíbrio de pH. Além disso, deficiência de Fe, Mn e Zn prejudica consideravelmente a produtividade do grow.

Curiosidade: Plantas com altos níveis de zinco podem tolerar secas mais longas.

4. Deficiência de Nitrogênio

A deficiência de Nitrogênio é o problema mais comum nos cultivos. N é diretamente responsável pela produção de clorofila e aminoácidos, e é essencial para a fotossíntese. Sem ele o crescimento pára rapidamente. Qualquer N solúvel em água (especialmente nitratos, NO3) está prontamente disponível para as raízes.

O N insolúvel, como a uréia, precisa ser decomposto por microorganismos do solo antes que as raízes possam absorvê-lo. É um nutriente móvel, portanto, os sintomas de deficiência aparecem nas folhas mais baixas, enquanto as novas permanecem saudáveis.

As folhas amarelam e morrem quando o N se transloca para suportar um novo crescimento. Eventualmente, a deficiência percorre a planta até que apenas o novo crescimento esteja verde, deixando as folhas mais baixas e velhas amareladas e murchas. Folhas inferiores morrem das pontas para dentro.

Outros sintomas incluem folhas menores, crescimento lento e um perfil esparso. As hastes e pecíolos ficam com uma coloração vermelha / roxa.

A solução: Qualquer fertilizante solúvel em água muito maior em N do que P e K pode ser usado para resolver deficiências de N muito rapidamente. A maioria das “fórmulas vegetativas” hidrológicas se enquadra nessa categoria. Após a fertilização, as plantas deficientes em nitrogênio absorvem N assim que estão disponíveis e começam a mudar de pálido para um verde Kelly de aparência saudável.

Atenção: Plantas deficientes geralmente se recuperam em cerca de uma semana, mas as folhas mais afetadas não se recuperam.

Para encerrar…

A percepção e solução dos problemas no cultivo do tipo nutricionais não são muito simples (pode-se perceber pelo tamanho dessa resposta ao leitor) e as ações bastante empíricas. É basicamente um “tente e tente de novo” até que se resolva o problema. Esperamos que as descrições dos sintomas auxiliem a identificar melhor qual a deficiência, mas não desista se as primeiras tentativas não trouxerem resultados.

Por isso, formulamos aqui algumas hipóteses, para que o leitor tenha caminhos e possibilidades diferentes no processo de tentativa e erro. Persista e lembre-se que você é provavelmente a pessoa que mais conhece suas plantas e o cultivo é constantemente um exercício de aprendizado.

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