Como combater as pragas no cultivo indoor
Na natureza ou dentro de casa, todas as plantas estão suscetíveis a ataques de pragas. Fungos e insetos são os patógenos mais comuns nos cultivos. Por isso, hoje vamos abordar, principalmente, a atuação das moscas brancas e pulgões (whitheflies), e também das formigas e tripes. Infestações de algas, vermes, lagartas, aracnídeos e moluscos, dentre outros grupos também podem ser um problema na plantação, mas vamos abordar a ação desses animais mais para frente.
Independente do tipo de infestação e mesmo que tratadas, as plantas podem ser atacadas novamente pelas mesmas ou por diferentes pragas. O retratamento pode ser o mesmo dado durante a primeira infestação ou é possível testar métodos alternativos para combater as pragas. O tipo de tratamento depende sempre de algumas variáveis além do tipo de praga. Iluminação, umidificação do ambiente, condições de solo e produtos utilizados no cultivo são algumas delas.
Confira tipos de praga, como elas atuam na planta e as opções de prevenção e controle:
Moscas brancas (whiteflies)
As moscas brancas são pestes bem comuns no cultivo, tanto indoor quanto outdoor, mas na verdade não são moscas. Elas pertencem ao grupo das hemipteras e possuem quatro asas (assim como as cigarras, pulgões e barbeiros). As moscas de verdade são dípteros, com apenas duas asas. Todos pertencem à classe dos insetos. Sua colocação é branca normalmente, mas pode ter tons de beges ou amarelo claro. Não são muito grandes, chegam no máximo a 2 mm, porém são lentas e fáceis de capturar. A questão é que não basta capturá-las, pois cada fêmea pode colocar cerca de 100 ovos por vez e eles levam apenas de sete a dez dias para eclodir. As larvas maturam entre duas e quatro semanas e os adultos vivem de quatro a seis semanas. Com esse poder de reprodução, a espécie causa prejuízo de bilhões na produção agrícola no país.
Sintoma
As moscas brancas atacam a parte de baixo das folhas nas plantas, mas circulam bastante ao redor. Não tem erro, você irá vê-las. E não adianta sacudi-las, por mais que elas voem, vão voltar a infestar e cuidar dos ovos que colocaram. O desenvolvimento é mais propício quando a temperatura do ambiente está variando entre 27 e 33ºC.
Prevenção
A melhor maneira de prevenir o aparecimento das moscas brancas é manter a temperatura do grow abaixo dos 27ºC e impedir, assim, a reprodução do inseto. Além disso, é importante manter as plantas limpas, livres de detritos e, se possível, instalar um filtro no sistema de circulação de ar. É válido ter atenção para as entradas e saídas do espaço serem feitas de maneira segura.
Controle
- Armadilhas pegajosas amarelas atraem as moscas brancas e as mantêm grudadas. É uma boa estratégia de captura quando se trata de uma população pequena. Sacuda as plantas para remover as moscas e depois passe um aspirador de pó em toda a área de cultivo. Também funciona melhor para populações pequenas, mas caso haja uma planta muito infestada, o melhor é removê-la do grow;
- Encarsia Formosa: pequenas vespas que depositam seus ovos dentro das moscas-brancas imaturas. Elas são anti-sociais, não fazem colmeias e são tão pequenas que, onde são liberadas, você provavelmente nunca mais as verá.
- Beauveria Bassiana: tipo de fungo de solo bem comum que é muito benéfico para as plantas pois atua como parasita predador de insetos.
- Lacewing larvae e Orius: controladores biológicos de pragas, incluindo as moscas brancas. Você encontrará ovos disponíveis para a venda, pois as larvas devem se desenvolver já na plantação.
- Capsaicina: composto químico (C18H27NO3) componente ativo das pimentas chili, que são plantas que pertencem ao gênero Capsicum. É irritante para muitos animais, incluindo os humanos, e produz uma sensação de queimadura em qualquer tecido.
- Piretro: inseticida botânico com baixa toxicidade para humanos e animais domésticos. Feito a partir das flores secas de Chrysanthemum cinerariifolium e Chrysanthemum coccineum. Seu ingrediente ativo são as piretrinas.
- Dióxido de carbono, óleos a base de ervas e pimentas, sabonete inseticida, óleo de Neem ou de sésamo também são opções muito viáveis para o combate às moscas brancas.
Pulgões ou Afídeos
Os afídeos, afídeos, pulgões ou ainda piolhos-das-plantas são pestes muito comuns no cultivo indoor e outdoor e atacam em todas as estações do ano. São hemipteras que se alimentam da seiva das plantas e variam de 1 a 10mm de tamanho, geralmente brancos e brilhosos, mas com espécies de cor marrom, cinza, amarelo, verde, vermelho ou preto. Essa variação nas cores pode permitir que algumas espécies se camuflem muito bem na planta e, portanto, seja difícil de vê-las. Geralmente colonizam o caule e a parte de baixo das folhas. No calo, cada geração leva de sete a 14 dias para nascer e cada afídeo pode colocar mais de 100 ovos, dependendo da espécie.
Sintomas
Infestações graves por afídeos fazem com que as folhas murchem e tenham o crescimento atrofiado ou reduzido. São vetores de vários patógenos como fungos, vírus e bactérias que podem, rapidamente, causar uma epidemia no grow, especialmente indoor, onde não há predadores naturais para a praga. Nestes ambientes podem se espalhar e infectar todo o cultivo em poucos dias. Já se acreditou que as cornículas também segregavam a substância designada em inglês como “honeydew”, ou seja, “orvalho-de-mel” que os afídeos também segregam. Hoje sabe-se que este é produzido no próprio canal alimentar análogo aos nossos intestinos, resultando em excesso de seiva que não chega a ser consumida pelo inseto. Como a proporção de açúcares na seiva é muito grande e acima das necessidades dos afídeos, estes ingerirem grandes quantidades de seiva para obter compostos azotados. O que não é digerido constitui a melada, rica em açúcares que atraem formigas.
Prevenção
- Filtro no sistema de ar: uma parte do ciclo de vida dos afídeos depende do transporte pelo ar. Portanto, um fino filtro no sistema ajuda a prevenir a entrada dos insetos.
- Monitoramento constante: confira regularmente suas plantas na busca por afídeos. Muitas espécies causam um estrago ainda maior quando a temperatura do ambiente está alta, mas não muito quente (entre 18º e 26ºC). Eles são mais abundantes ao longo das bordas das folhas no sentido do vento, mas confira também a parte de baixo das folhas.
- Atenção com as formigas: quando elas estão presentes, os afídeos tornam-se ainda mais difíceis de controlar pois as formigas se alimentam justamente do “honeydew”.
- Esteja atento para iniciar o tratamento bem no começo da infestação. Quando há muitos afídeos o trabalho fica mais árduo pois eles utilizam as folhas curvadas como abrigo de maneira a tornar complicada a função de aplicar inseticidas eficientes ou mesmo controladores biológicos naturais.
- Outdoor: a regra de manter a atenção vale para qualquer tipo de cultivo, mas os afídeos não são um problema tão grande nos cultivos externos justamente pela presença de diversos predadores, inclusive algumas larvas que controlam naturalmente a população das suas presas.
Controle
- Outdoor: se necessário realizar o controle de afídeos no cultivo externo, é recomendado que se busque primeiramente apenas afastá-los ou auxiliar os predadores naturais borrifando água. Se a infestação prosseguir e passar a ser um problema, o cultivador pode selecionar e aplicar um dos próximos métodos de cultivo indoor que melhor se adapte a circunstância.
- Parasitas e predadores de afídeos: parasitas são mais eficientes antes do surto. Para infestações mais severas, recomenda-se a preferência pelos predadores. Todavia, é importante lembrar que a atuação dos parasitas é muito sutil se comparada a dos predadores. Os predadores passam uma grande parte da sua vida comendo e matando os afídeos, enquanto os parasitas, em sua maioria, atacam os ovos antes das larvas eclodirem.
- Aphidius matricariae, A. ervi e A. colemani: Essas são espécies de vespas que colocam seus ovos dentro das larvas dos afídeos. As larvas ficam completamente paralisadas e mudam de cor para marrom ou preto. A reprodução desses parasitas ocorre mais rapidamente (ciclo mais curto) na estação quente. São capazes de reduzir significativamente a presença dos pulgões em cerca de uma ou duas semanas.
- Aphidoletes aphidimyza: é um predador de mais de 70 espécies diferentes de pulgões. Disponível comercialmente como um excelente controlador biológico para pragas em plantações, é efetivo indoor e outdoor. Ficam nas folhas durante o dia e predam no período da noite, quando as fêmeas também depositam seus ovos nas colônias dos afídeos. Em dois ou três dias as larvas laranjas já eclodem e passam a se alimentar dos pulgões, eliminando a população de pragas em pouco mais de uma semana. Passam pelo estágio de pupa após o período larval, e antes de emergirem adultos, por isso, não podem ser utilizados para controlar pragas conjuntamente com nematóides (vermes) que se alimentam das pupas;
- Joaninhas (Coccinellidae): são o principal predador natural dos pulgões.
- Inseticidas naturais a base de ervas ou artificiais são muito eficientes e não costumam ser prejudiciais à saúde humana ou de animais domésticos.
- Chás com ervas a base de Capsaicina, canela, cravo, coentro ou alho também são eficientes. Misture uma colher de sopa de pimenta para 250ml de água, mas caso a planta não reaja bem, você pode diluir um pouco mais. As ervas devem ser bem misturadas antes de utilizar;
- Terra de diatomáceas, Piretro, óleo de neem e sabonetes inseticidas continuam sendo boas opções.
Formigas
As formigas são abundantes no cultivo indoor e no outdoor e podem se esconder no solo ou entre a planta. Elas escalam os caules e, quando possível, tomam conta de seus funcionários afídeos produzindo o honeydew. Elas se organizam em colônias na terra, o que é extremamente prejudicial para as raízes. É importante entender que as formigas normalmente são atraídas para o cultivo porque este já está infectado com outros insetos que sugam a seiva e produzem o composto glicolítico que interessa a elas. Além de se alimentar dessa melada, as formigas também são capazes de organizar seu rebanho de “cozinheiros” para trabalhar por toda a planta e fornecer alimento para a colônia.
Sintomas
Evidentemente existem muitas espécies de formigas com comportamentos bem diferentes entre si, mas no geral estima-se que apenas 10% da população das formigas trabalha fora da colônia, ou seja, se você enxerga algumas andando pelas folhas, provavelmente há uma colônia formada e muito abundante abaixo do solo. Para tratar a planta é necessário remover totalmente a colônia, e, especial a rainha, e realizar a troca da terra.
Prevenção
- Fossos: as formigas não nadam, por isso, fossos impedem que elas rastejem do chão ou da mesa para o recipiente. Um simples fosso pode ser feito usando uma bandeja larga e um suporte como um pedaço grosso de isopor ou um bloco de madeira. Coloque o recipiente da planta em cima do suporte, encha a bandeja com água e, como alternativa, coloque as pernas da mesa em um fosso.
- Canela, cravo e louro são as ervas mais repulsivas às formigas. Crie um perímetro ao redor do local onde é realizado o cultivo com um apanhado ou até mesmo chá dessas especiarias.
- A terra de diatomáceas mata insetos com suas pontas afiadas, perfurando os que rastejam sobre ela. Funciona melhor em ambientes secos.
- Cartões adesivos, papéis “mata-mosca” e vaselina são efetivos contra as formigas que circulam nos caules da planta. Mas não aplique diretamente. Instale primeiro alguns pedaços de papel e depois coloque a cola. É uma solução fácil e não-tóxica para não permitir que as formigas criem colônias.
Controle
- Especiarias: use um chá de cravo e canela para lavar as plantas infectadas. Pimenta caiena, extratos cítricos ou mentolados e creme de tártaro também funcionam muito bem.
- Iscas de ácido bórico: As formigas são atraídas por doces, então, misture algum composto com açúcar junto com o ácido bórico e vai atraí-las diretamente para a armadilha.
- Piretro e outras armadilhas comerciais para formigas funcionam com apenas uma porção, matando as formigas em poucos dias.
- Saccharopolyspora spinosa: bactéria benéfica para as plantas que atua como controlador biológico de formigas e diversas outras pragas.
Tripes (Thrips)
Por mais que não seja considerada uma praga comum em cultivos, em condições específicas os tripes podem ser um problema bem sério. São insetos pequenos, pertencentes a ordem dos Thysanoptera, que dificilmente passam dos 1.5mm de comprimento, mas ainda sim são visíveis a olho nu. Os adultos têm asas mas não voam muito bem, normalmente se locomovem saltando. As cores variam entre o amarelo e o marrom, inclusive nas larvas. Tripes atacam as folhas e normalmente são encontrados na superfície. Os tripes podem ser fitofagos, alimentando-se das folhas e flores; micófagos ou fungívoros, que se alimentam dos esporos dos fungos; predadores, que atacam ácaros, afídeos, outros tripes e/ou seus ovos e nematóides. Também há duas espécies de ectoparasitas. O aparelho bucal é do tipo picador-sugador, utilizado diretamente para sugar a seiva das plantas. Os Tripes também podem carregar consigo alguns patógenos.
As fêmeas colocam entre 40 e 300 ovos (dependendo da espécie) na superfície das folhas ou dentro dela e dos caules. A larva eclode e passa para o estágio de pupa. Em condições ótimas de temperatura (26 a 29ºC) a maturação se completa passando por todos os estágios. o que leva entre 7 e 30 dias.
Sintomas
O sintoma mais visível é a aparência de cicatriz que as folhas adquirem. Ocasionalmente a clorofila também é drenada, portanto, algumas folhas podem apresentar cloroses parciais ou totais e isso implica numa redução da fotossíntese. Deixam para trás manchas esverdeadas que são as suas fezes. No geral, os danos causados pelos Tripes se assemelham muito aos causados por aranhas e ácaros, mas em alguns casos graves é possível identificar que os ataques por tripes deixam as folhas com listras coloridas. Em ambientes outdoor os tripes hibernam durante o inverno e só se reproduzem no verão, especialmente em temperaturas acima de 16ºC. No cultivo indoor, com a temperatura controlada, é possível que os tripes continuem seu ciclo de vida durante todo o ano, por isso, o ataque ao grow se torna mais complexo, sobretudo sem a presença de alguns fungos naturais do solo que infectam as pupas.
Prevenção
Os tripes são atraídos pelas cores azul e amarelo, então, é melhor evitar essas cores nos itens do grow como as janelas, por exemplo. Os cartões adesivos (amarelos ou azuis) podem ser utilizados para identificar a presença da praga. em espaços outdoor, o alho funciona como um excelente repelente.
Controle
- Barreira: as pupas dos tripes vivem no solo antes de subir para o restante da planta, então, crie uma barreira ao redor do pé da planta que impeça a larva de deixar o solo e assim ela morrerá. Fungus gnat ou terra de diatomáceas colocados no solo também ajudam a destruir as larvas.
- Beauveria bassiana*
- Nematóides benéficos*
- Capsaicina*
- Óleos pesticidas à base de especiarias e ervas, óleo de neem.
- Orius* (pode ser utilizado junto com os nematóides).
- Amblyseius cucumeris: ácaro predador de tripes que controla muito bem a população de pragas se inserido em grande quantidade.
- Saccharopolyspora spinosa*
- Piretro*
(*na listas de controle de outras pragas mencionadas anteriormente.)
Dúvidas mais comuns sobre pragas
Em caso de encontrar uma planta infectada por pragas, a precaução é isolá-la para não afetar as plantas saudáveis?
– Depende muito do tipo de praga e da gravidade da infestação. Normalmente quando o ataque é percebido pelo cultivador, já atingiu mais de uma planta e, realizar o isolamento, não é mais uma opção. Em uma situação em que existe uma única planta infectada de maneira severa, a recomendação é que ela seja removida do grow. Mesmo assim as demais plantas devem ficar em observação e, no caso de dúvidas, serem tratadas também. Se mais de uma planta já foi afetada é melhor mantê-las juntas e realizar o tratamento em ambas, lembrando sempre que dependendo do tipo de praga pode ser necessário realizar alguma medida na estrutura do grow também.
Diversificar a plantação ajuda a deixar o cultivo mais sadio?
– No geral, para o tipo de cultivo que planejamos, não. Na natureza, em grandes plantações, a policultura e o rodízio de espécies é muito importante para a manutenção dos nutrientes do solo e realmente reduzem a probabilidade de ataque das pragas mantendo as plantas mais resistentes. Entretanto, no cultivo indoor e mesmo no outdoor, essa medida só deve ser tomada com bastante cautela. Visto que diferente pragas atacam de maneiras diferentes as diferentes plantas, você pode acabar transmitindo infecções ou infestações de uma espécie de planta para outra.
Pesticidas naturais são eficazes?
– Sim, muito! Os controladores biológicos (predadores) e também os pesticidas à base de produtos naturais são muito eficientes. Precisamos nos lembrar de que, por mais que a agricultura e o cultivo para consumo sejam fruto de um processo histórico antrópico (humano), a natureza dá conta de si mesma sozinha. Evidentemente, no mundo natural algumas populações são completamente extintas pela ação de competidores, visto que a extinção é a regra e não a exceção. Entretanto, na situação do cultivo, buscamos manter nossas plantas salvas das complicações com pragas. Para isso precisamos, além de um bom sistema de prevenção, estarmos preparados para lidar com o ataque. E é possível fazer isso utilizando apenas com recursos que a própria natureza oferece.