Psilocybe e outros cogumelos mágicos
Os fungos possuem uma enorme diversidade de aplicações no mundo dos humanos, desde usos na agricultura, alimentação e medicamentos, até usos ritualísticos por diversas culturas. Várias espécies de fungos produzem cogumelos potencialmente alucinógenos, os quais foram e são considerados divindades por povos antigos. Pelo menos doze gêneros de fungos abrigam espécies que produzem a psilocibina, por exemplo, um dos alcalóides ativos mais conhecido e estudado. Grande parte dessas espécies está no gênero Psilocybe, mas outros gêneros como Conocybe, Gymnopilus, Copelandia, Paneoluse Pluteus também contém espécies produtoras de compostos psicoativos.
Os Aztecas, povos antigos que viveram em regiões da América Central e do Norte, principalmente no México, foram grandes utilizadores de cogumelos alucinógenos em seus rituais sagrados e também como instrumento de cura. O notório pesquisador Richard Evans Schultes, que desenvolveu diversos estudos sobre plantas enteógenas, descreveu em um de seus estudos, datado de 1940, o uso de plantas psicoativas por povos indígenas mexicanos. Dentre as espécies citadas por Schultes estão o peiote (Lophophora williamsii), ololiuqui (Rivea corymbosa) e um cogumelo, chamado por eles de Teonanacatl, o que na língua indígena dos povos Aztecas significa a “carne dos deuses”. O teonanacatl seria, primariamente, o cogumelo da espécie Paneolus campanulatus, o qual era utilizado por esses povos em rituais de dança e meditação. Mas outras espécies de cogumelos também são denominadas assim, devido a serem consideradas como organismos divinos por essas tribos ancestrais.
Assim como o peiote e ololiuqui, o uso do teonanacatl aparece nos relatos de colonizadores espanhóis desde meados dos anos 1550. O cogumelo divino dos Aztecas, que foi demonizado pelos missionários cristãos, era utilizado por curandeiros para servir de porta de comunicação com os espíritos da natureza, os quais permitiam a identificação dos males e doenças das pessoas, que eram evidenciados nas visões dos curandeiros ao ingerirem o cogumelo. Outras evidências ancestrais de uso de cogumelos são encontradas na Guatemala, onde estátuas de pedras esculpidas na forma do píleo dos cogumelos datam de três mil anos atrás.
O gênero Psilocybe é um dos mais conhecidos por suas espécies produtoras de psilocibina e outros alcalóides psicoativos. Dentre as espécies deste gênero, destaca-se Psilocybe azurescens, sendo a espécie mais notável em termos de acumulação de alcalóides, podendo chegar a mais de 2% de massa seca em psilocibina. Nativa da costa oeste dos Estados Unidos, esta espécie ocorre apenas em uma pequena área em planícies no delta do rio Columbia, no estado de Washington, sendo assim uma espécie endêmica daquela região. Outra espécie norte-americana é Psilocybe cyanescens e ambas parecem concentrar uma quantidade considerável de alcalóides. Algumas teorias correlacionam a localização geográfica das espécies de cogumelos com sua maior produção de alcalóides, podendo ser uma resposta do fungo à uma determinada condição ambiental de seu hábitat, como por exemplo uma defesa contra um predador.
Albert Hoffman e seus colaboradores estudaram extensamente os efeitos da psilocibina. As experiências durante as alucinações induzidas por psilocibina vão desde sensações de leveza, mudanças e alterações na percepção espacial e temporal, mudanças percepção da auto-imagem e do corpo até experiências visionárias, em doses mais elevadas. Os estudos de Albert Hoffman com Psilocybe mexicana, ocasião em que ele ingeriu trinta e dois chapéus de cogumelos secos, o que equivale a uma dose média, o levaram a conclusões da grande similaridade da psilocibina com outros compostos como mescalina e o próprio LSD-25.
Apesar de serem aparentemente fáceis de encontrar e identificar em campo, a diferenciação entre as espécies de cogumelos as vezes só pode ser feita com auxílio de microscópio, o que, por vezes, leva o usuário a ingerir doses elevadas de espécies realmente tóxicas. Alguns cogumelos comestíveis nativos do Brasil, não alucinógenos, são facilmente encontrados e mesmo a coleta destes exemplares por pessoas que os desconhecem pode ser arriscado. Por isso, é importante ter cautela ao sair pelas pastagens ao encontro deles.
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O uso já vem a mais de 3 mil anos fazendo parte de nossa evolução como especie e, tem gente querendo proibir, é estranho como isso acontece com a psilocibina (que não causa dependência nem efeitos permanentes) enquanto isso a nicotina (extremamente viciante) é vendida em postos de gasolina.