Os Canabinóides e o Sistema Endocanabinóide

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Canabinóides, um termo atualmente muito citado, no qual vamos abordar nesse artigo.
A Cannabis vem sendo utilizada pelo ser humano desde a antiguidade para diversos fins, como na produção de tecido, em cerimonias religiosas e no uso medicinal. Com a exploração dos efeitos terapêuticos, foram descobertas algumas substâncias que ao reagir nosso organismo são capazes de ativar uma série de processos fisiológicos.
O estudo do mecanismo de ação dessas substancias levou à descoberta dos receptores de canabinóides acoplados no cérebro de mamíferos, e sucessivamente descobriram substâncias endógenas que se ligam a esses receptores, o que levou à descoberta do que hoje chamamos de Sistema Endocanabinóide.

O que são Canabinóides?

É um termo genérico que serve para descrever substancias que ativam os receptores do sistema endocanabinóide, resultando em diferentes reações no corpo. Esses canabinóides podem ser classificados em:

  • Endocanabinóides – produzidos no sistema nervoso e imunológico de mamíferos.
  • Fitocanabinoides – produzidas pela planta Cannabis Sativa.
  • Sintéticos – produzidos em laboratório.

O que é o Sistema Endocanabinóide?

O Sistema Endocanabinoide é um sistema fisiológico envolvido na regulação de processos fisiopatológicos no Sistema Nervoso Central (SNC) e em vários órgãos periféricos. Ele é formado por receptores canabinoides seus ligantes endógenos e enzimas de síntese e degradação. Os receptores são classificados em:

Receptor CB1 – encontrados em maior abundância pré-sinapticamente no SNC, em áreas ligadas ao controle motor, aprendizagem, memória, resposta emocional e homeostase energética e cognitiva. É responsável pela maioria dos efeitos psicotrópicos dos canabinoides.
Receptor CB2 – encontrados principalmente nas células do sistema imune, nas células da micróglia e neurônios pós-sinápticos. Sua atividade pode estar relacionada com a diminuição de inflamações e de alguns tipos de dor.

Foram encontrados outros receptores canabinoides agrupados como não-CB, que no SNC são expressos em terminais pós-sinápticos e podem ser ativados por um endocanabinóide chamado anandamida.

canabinoides e o sistema endocanabinoide

Quais são os principais canabinóides da planta?

As pesquisas em torno da Cannabis e das suas propriedades terapêuticas começam a ganhar legitimidade somente a partir da década de 60, com o isolamento e a elucidação das estruturas químicas do Canabidiol (CBD) e do Tetra-hidrocanabinol (THC). Hoje já se descobriu que as atividades farmacológicas estão associadas aos mais de 60 fitocanabinóides exclusivo da planta. Os compostos mais abundantes são:

  • THC – possui atividade antiinflamatória, alívio de náuseas, causa uma leve euforia, estimula a fome e ainda apresenta propriedade ansiolítica.
  • CBD – possui atividade anticonvulsivante, antipsicótica, ansiolítica, neuroprotetor, antiinflamatório para o sistema imune, analgésico e como sedativo para casos de insônia crônica.
  • Canabinol (CBN) – possui atividade antiinflamatória, antipsicótica, antibiótica e analgésica.
  • Canabigerol (CBG) – possui atividade antibiótica e antifúngica

O THC e CBD são os fitocanabinóides que se apresentam em maior quantidade na planta, e também são os mais estudados para fins medicinais. O CBD é considerado antagonista de alguns efeitos indesejáveis do THC, sendo assim o tratamento com essas substancias combinadas são mais tolerados e eficazes que de forma isolada.

Quais são os canabinóides produzidos pelo corpo humano?

Os canabinóides produzidos pelo organismo humano são chamados de endocanabinóides e possuem um papel importante na maioria dos processos fisiológicos, de dor, cognição, regulação do sistema endócrino, da função metabólica, resposta emocional, efeitos no sistema imunitário, neuroprotetores e antieméticos. Até a data de hoje, dois endocanabinóides foram descobertos, são eles:

  • Anandamida (AEA) – agonista parcial dos receptores CB1 e CB2, é mais encontrada em áreas cerebrais onde os receptores CB1 estão mais concentrados. Seu nome vem da palavra ananda, do Sânscrito, que significa “felicidade”, e pode ser comparado ao THC por produzir efeitos semelhantes a ansiolíticos e antidepressivos.
  • 2-araquidonilglicerol (2-AG) – agonista total dos receptores CB1 e CB2, com afinidade leve a moderada por ambos receptores.

Canabinoides isolados para uso medicinal

Estudos sobre a administração de canabinóides isolados para fins medicinais em seres humanos, tem demostrado que a toxicidade no organismo é praticamente nula, não foram documentados casos de mortes por dose excessiva em humanos e nem em animais.
O consumo da cannabis ou do THC isolado pode levar o paciente a ter alguns efeitos adversos, efeitos que são considerados temporários, como a diminuição de concentração, prejuízo da memória de curto prazo, diminuição do reflexo motor, dificuldade de expressão verbal e aumento da sociabilidade. Em tratamentos com CBD isolado, o efeito adverso relatado é a sonolência. As reações podem ser diferentes de pessoa para pessoa, pois depende de fatores genéticos e ambientais, em altas doses o THC pode levar a ansiedade e um quadro psicótico em uma personalidade que tende a este quadro.

Um dos motivos pela segurança da administração dessas substâncias, é pelo fato de possuirmos uma extensa rede bem distribuída de receptores para os canabinóides no nosso organismo. Devido às restrições legais dos compostos da cannabis, ainda há poucos registros de pesquisas do acompanhamento clínico de pacientes em tratamento com canabinóides, mas se espera que com os avanços da descriminalização da planta, esse cenário tende a mudar e vários medicamentos derivados da cannabis tendem a surgir.

 

Referências:

CORRÊA, Leonardo Tibiriçá; et al. Systematic Bibliographic Review – Endocanabinoid System Trends for Use in Pharmacology. Brazilian Journal of Forensic Sciences, Medical Law and Bioethics 9(2):146-167. 2020.

CURY, Rafael de Morais; SILVA, Elton Gomes; NASCIMENTO, Francisney Pinto. O Sistema Endocanabinoide e o potencial terapêutico da Cannabis como antiespasmódico:Uma Revisão da Literatura. Revista Brasileira de Psiquiatria, vol 32,mai.2010.

HONÓRIO, Káthia Maria. Aspectos terapêuticos de compostos da planta Cannabis sativa. Quím. Nova [online]. 2006, vol.29, n.2, pp.318-325.

SILVA, Elen Francis Queiroz. Revisão de métodos para determinação de canabinoides em matrizes biológicas por cromatografia líquida de alta eficiência acoplada ao detector de espectrometria de massas. 2017.

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